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"A vida começa depois do café!" |
Além de praia e sertão,
nosso Ceará também tem regiões de serra, com temperaturas amenas e o Maciço de
Baturité, pertinho de Fortaleza (menos de 100 km) é para onde muitos vão em busca de um
climazinho frio, de festivais culturais e da ainda pouco conhecida Rota Verde
do Café.
Essa região, que no começo era
habitada por indígenas, abriga a maior área de proteção ambiental do Ceará contemplando
os municípios de Baturité, Mulungu, Guaramiranga, Pacoti, Aratuba, Palmácia, Capistrano e Redenção e lá pelo século XIX começou a atrair fazendeiros dos sertões de Quixadá, Canindé e
Quixeramobim, que ali vislumbraram um local de “fuga” para quando a seca apertasse.
Muitos por lá se estabeleceram, principalmente durante a seca de 1845. Nessa
época, o café já havia chegado na serra (desde 1824) e roças
foram abertas e sítios foram erguidos. O café da região prosperou e chegou a
representar 2% do café produzido no Brasil. .
Foi o café o responsável pela
construção da primeira estrada de ferro do Ceará, ligando Baturité ao porto de
Fortaleza, feita principalmente para escoar a produção dos grãos.
100% Arábico e conhecido como “café
sombreado”, pelo fato de crescer à sombra de outras árvores, principalmente da
Ingazeira, era famoso pelo sabor e aroma, ficando conhecido na Europa pela excelente qualidade.
O Ciclo do Café terminou no
Brasil e na Serra de Baturité por volta de 1930 mas o SEBRAE, juntamente com
alguns dos antigos sítios produtores da região, criou a Rota Verde do
Café em 2015.
Farei a sugestão de um roteiro que, apertado, pode ser feito em dois dias, passando por todo o circuito.
A visita pode ser
iniciada na cidade de Baturité (175m altitude), com uma parada para conhecer a
antiga estação ferroviária, inaugurada em 1882 e hoje transformada em museu com
peças e mobiliário da época, além da antiga Maria Fumaça, e no Mosteiro dos Jesuítas, um prédio imponente,
datado de 1927, com parte da estrutura rebocada e outra parte com tijolos
aparentes, o que dá uma visão ainda mais impressionante para a construção. Do mosteiro,
uma bela vista da serra.
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Museu Estação Ferroviária |
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A antiga Maria Fumaça |
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Placa da inauguração da estação, de 1882 |
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Mosteiro dos Jesuítas |
Nessa primeira parada pode-se comprar
o café feito na Fazenda Caridade, o Café do Mosteiro, doces e rapadura.
Hora de retomar a estrada seguindo para Guaramiranga e, 13km depois de Baturité, virar à esquerda em direção à cidade de
Mulungu (790m). Logo no começo da cidade, pequenas placas indicam o Sítio São
Roque, que fica à direita da estrada principal, em uma estradinha de calçamento
que se estende por 2km até o sítio criado em 1913 pelo casal Alfredo e Amélia
e, posteriormente sendo assumido pelo seu filho caçula, Gerardo Farias. Seu
Gerardo, até pouco tempo era quem fazia a visita guiada pela propriedade mas
veio a falecer com mais de 90 anos, em 2018.
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Sítio São Roque com a capelinha ao fundo |
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O Casarão |
Fomos recebido pela Aninha
que fez toda uma explicação sobre a criação do sítio, sobre o café, nos levou
para conhecer o casarão e no final, para provarmos dos dois tipos de café produzido
ali, o café Alfredo e o café Amélia, batizados assim em homenagem aos patriarcas e fundadores do sítio.
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Explicações pela Aninha |
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Aprendendo a colher café |
Depois do São Roque, hora de
pegar a estrada de volta para se acomodar em Guaramiranga (865m), o menor município
do Ceará e o mais procurado na serra para aproveitar a noite
passeando pela cidade e suas inúmeras opções de bares, restaurantes, pizzarias,
curtindo o clima que, nessa noite de verão era 18oC, mas que nos meses de julho/agosto, pode chegar a 12oC.
No dia seguinte, dando
continuidade à Rota, o Sítio Águas Finas (de 1939), a menos de 2km de
Guaramiranga é de propriedade da família Uchôa e produtora do café de mesmo
nome. Lá eles fazem uma trilha explicativa de 1,5km que demora por volta de 1 hora e meia.
A trilha sai em horários determinados e no final tem a degustação do café (embora tenha ido no sítio, devido ao tempo, foi o único passeio da Rota que não fiz).
Retornando para Guará em
direção a Pernambuquinho vislumbra-se facilmente na beira da estrada a casa branca da Fazenda
Floresta, de propriedade de Seu João
Caracas e Dona Eunice, por quem fomos muito bem recebidos.
Dona Eunice foi quem fez a
explicação dos maquinários da propriedade, de como é feito o café, nos levou ao
pequeno engenho onde fabricam rapadura, açúcar mascavo e onde Seu João fabrica
a sua aguardente de banana, além de nos mostrar a casa onde moram e que data de
1873.
Ao final, parada na lojinha
para provar a aguardente e os licores feitos por D. Eunice. A conversa estava
tão boa que esqueci de perguntar pela prova do café É Jóia (fabricado por eles)
..... Fica pra próxima vez.
Saindo da Fazenda Floresta,
pegar a estrada para Pacoti e fazer a visita ao último sítio da Rota, o belo
Sítio São Luís, construído entre 1870/1880, com seu casarão branco e interior
muito bem preservado com móveis da época, fogão à lenha.
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Hora do café |
Lá, o visitante tem a opção de
fazer uma visita guiada (em dias e horas determinadas) ou simplesmente conhecer
o casarão tomando um cafezinho (infelizmente um café industrializado...) com uma pequena degustação do pão e bolo
caseiros. A novidade recente do sítio é a reconstrução do
engenho.
E já que estamos em Pacoti,
a menos de 5km, uma paradinha para apreciar a vista do Pico Alto, 2º ponto mais
alto do Ceará (1114m). Lindo!
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Vista do Pico Alto |
A Rota do Café é uma imersão
nas histórias do ciclo do café naquela região. Cada sítio ou fazenda tem sua
peculiaridade. Visitas guiadas, trilha no cafezal, lojinhas com produtos
regionais e muitas conversas regadas à café. Valeu à pena cada parada!
Dicas
para quem vai:
Hotel: em
Guaramiranga existem diversas opções. Para quem vai curtir a noite, o melhor
mesmo é ficar no centro. Hotel Montenegro, Pousada Manjericão, são algumas das boas
opções e, na alta estação, é obrigatório fazer reserva com antecedência. Como
eu não fiz, acabei ficando na Cedros Pousada, um casarão antigo, mas com
quartos básicos, bom atendimento e café da manhã sortido. Vizinho, tem também a
Pousada da Josy.
O Eco Hotel Vale das Nuvens,
todo construído de material reciclável, fica a 3km do centro da cidade (2 dos
quais de calçamento) e é excelente opção para quem procura sossego, uma bela
vista e ainda conta com a atração extra do avião xavante que faz parte de um
pequeno museu dedicado à EPCAR (Escola Preparatória de Cadetes do Ar), da qual
fez parte o proprietário do hotel, Joaquim Caracas.
Restaurante: em Pacoti,
almocei por duas vezes no restaurante Mineiro. Boa comida e porções muito bem
servidas.
Em Guaramiranga, a Pizzaria
Cogumelos. Massa fininha, pizza muito boa.
Sítio São Roque: visita
guiada com degustação de bolo e doce de banana, biscoito e os 2 tipos de café
do sítio: R$ 20,00.
Sítio São Luís: visita
guiada com degustação ao final: R$ 35,00. Somente a entrada no casarão com uma
degustação menor: R$ 10,00, e com café completo: R$ 25,00.
Fazenda Floresta: Visita
pela própria propriedade com as explicações: R$ 10,00
Sítio Águas Finas: trilha guiada com degustação: R$ 30,00
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A 1a casa |
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Café Alfredo e Café Amélia |
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A lojinha e sala para degustação |
Guaramiranga
4 comentários:
Primeiro passeio turistico da Lia, que tomou mais café que cevada...kkkk.. excelente e detalhado Post.. show.
Régis
Adorei tanto deste teu post, que o publiquei na minha página. Fiquei com vontade de fazer este roteiro. Obrigada por postar.
Sandra
Massa Lia Campos, sobre sempre inovando nas rotas e nos posts! Adorei, tô na cola dessas dicas.....
Marinês
excelente depoimento. Obg!
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