“Já ouviu falar de Caetanos
de Cima? Bora pra lá no fim de semana?”
Apesar de “pertinho” de
Fortaleza (200km, no litoral oeste do Ceará), eu nunca tinha ouvido falar de
Caetanos e quando minha irmã me fez o convite, confesso que titubeei. Não estou
numa fase muito praia.... Mas, curiosa, fui pesquisar a respeito do lugar e,
mais do que uma bela praia e a possibilidade de conhecer os “lençóis cearenses”,
ou melhor, lençóis caetanenses, o que me fez decidir foi a curiosidade de
ver de perto essa pequena vila que há anos organiza-se de maneira comunitária,
resistindo à especulação imobiliária sempre de olho naquele pedaço de paraíso para
investir em turismo.
Então bora! E de quebra tivemos a praia de
Moitas. Esta eu já tinha ouvido falar, embora também não conhecesse.
Mas comecemos por Caetanos
de Cima.
O “De Cima” é em razão de existir o “De Baixo”.
O Caetanos, diz a
lenda, ficou por causa do seu primeiro morador, há bastante tempo, que chegou
por lá e iniciou um povoado. A praia ao lado também cresceu, formou vila e hoje
são dois povoados, o Caetanos de Cima e o Caetanos de Baixo. Em comum, parte do
nome e a praia, porém, o De Cima tem uma história diferente, que começou com a
luta pela terra, até que, na década de 80, juntamente com mais duas comunidades
(Pixaim e Matilha), conseguiram a posse do que lhes era de direito no Assentamento
Sabiaguaba.
A partir daí os cerca de 300 habitantes organizaram-se, entraram
para a Rede Tucum (Rede Cearense de Turismo Comunitário, que luta em defesa do território e das tradições da zona costeira do Ceará), criaram núcleos culturais com
atividades voltadas principalmente para os jovens, como grupos de capoeira, de
música, teatro e resgataram antigas tradições já esquecidas pelo tempo, como a dança do
coco, hoje festejada pela meninada, sob o comando experiente da Dona Teresa,
com o grupo Raízes do Coco.
Não foi só a parte cultural que eles organizaram.
Quase tudo o que se come por lá é fresquinho. Além do peixe, são criados animais e toda casa tem o seu “quintal produtivo”. Mandioca, milho, cana,
verduras, frutas mil. Tudo orgânico e sem agrotóxico. Têm também a Casa de
Farinha comunitária e o Restaurante das Mulheres, comandado por elas, grupo feminino
presente com força na comunidade.
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Restaurante das Mulheres à beira mar |
É muita história! E pra
ouvir tudo isso, não existem pousadas luxuosas em Caetanos. A hospedagem para
os visitantes é oferecida pelos próprios moradores. É o turismo comunitário.
São nove as famílias que possuem espaço, seja dentro da própria casa, seja em
pequenos chalés construídos com esse objetivo de hospedagem.
Nós ficamos com o
casal Ana e Valyres. Eu, num quarto dentro da casa. Márcia e Ceiça, no chalé do
lado de fora.
Não poderia ter tido experiência melhor!
Participar um pouco da
vida da família, acordar com as galinhas (literalmente), conversar com a Ana à
beira do fogão enquanto ela fazia a tapioca pro café, comer no caramanchão pisando no chão de areia
fina um peixe fresco, chupar cana tirada ali na hora pelo Valyres (depois de ouvir de mim que há anos não chupava uma cana) e deitar na rede olhando as dunas ao longe, escutando o silêncio do vento. Até a grata
satisfação de participar do aniversário de 12 anos do Pablo, filho do casal,
nós tivemos! Uma noite simples mas especial da qual nunca iremos esquecer.
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12 anos do Pablo |
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Sofrimento..... |
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Casa da Ana e Valyres |
Nossa estadia ainda foi
premiada porque no mesmo final de semana o grupo Mara Hope estava por lá
fazendo um vídeo clipe e na noite do domingo, no Restaurante das Mulheres, toda
a comunidade se reuniu e teve apresentação da dança do coco, roda de ciranda,
batuque com os Iniciantes do Batuque, forrozinho pé de serra e o Mara Hope.
Noite foi mágica!
De arrepiar ouvir ali, beira de praia, as pessoas da comunidade, conosco, os " de fora", tudo junto e misturado, cantando Dorival Caymmi à capela : "Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer. Se Deus quiser quando eu vou voltar do mar, um peixe bom, eu vou trazer...."
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Grupo Raízes do Coco |
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Grupo Iniciantes do Batuque |
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Mara Hope |
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Dança do Coco na praia |
Como se não bastasse tudo
isso, o local tem uma área com dunas e lagoas belíssimas, onde passamos os
finais de tarde.
Saí de Fortaleza querendo conhecer esses “lençóis cearenses”
mas aprendi que o nome é (com toda propriedade) Lençóis CAETANENSES. Belo!
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Cachorrinha Ferrugem apreciando o por do sol sobre as dunas |
Estando em Caetanos, ou na
região, a esticada para a praia de Moitas tem que constar no roteiro. Praia
calma, povoado pequeno e que tem uma atração extra: o passeio de barco pelo
rio Aracatiaçu.
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Praia de Moitas |
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Barra do Rio Aracatiaçu |
Na barra, existem barcos que
levam os turistas pelo rio, podendo ser pela manhã ou no final da tarde, para o
por do sol.
Fomos pela manhã e tivemos a
sorte (depende da maré) de passar pelo túnel de mangue. Pensei que fosse só um “arcozinho”
de galhos mas é realmente um túnel grande que se forma com as raízes de mangue
de um lado e de outro, e vários caranguejos vermelhinhos correndo assustados
com o barco.
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Iniciando o passeio de barco pelo Rio Aracatiaçu |
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Entrando no túnel de mangue |
O passeio demora umas duas horas, incluindo uma
parada de 20 minutos na Ilha das Ostras, onde tem um barzinho muito bacana, com
peixe frito, camarão e ostra, claro! Na volta, parada par um banho ligeiro nas
águas do rio, ao lado da dunas.
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Restaurante da Ilha das Ostras |
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Estacionamento de balsas |
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Banho no rio |
O passeio de Moitas foi maravilhoso mas acho que não preciso nem dizer que amei
os dias em Caetanos. Um pedaço do meu Ceará lindo que eu não
conhecia. E conheci de uma maneira especial. Voltarei com certeza.
Dicas
para quem vai:
Caetanos
de Cima
Como chegar: a 200km de Fortaleza, no
litoral oeste, município de Amontada. Um pouco antes de Icaraí de Amontada,
seguir a placa de Sabiaguaba e chegando lá, o melhor é ir perguntando. A partir de Sabiaguaba, estrada
tranquila, de paralelepípedo e depois um pouco de piçarra. O itinerário
certinho tem no site da Rede Tucum ou no de Caetanos de Cima(logo abaixo).
Na estrada: paradinha obrigatória em Paraipaba para comer café com tapioca e comprar de tudo um pouco: rapadura, doces, mel, coco, quebra queixo, frutas..... São várias opções de lugares todos à beira da estrada.
Onde ficar: não existem
pousadas "formais" nem hotéis. A hospedagem é feita nas casas de alguns moradores, num
turismo comunitário.
Fiquei na
casa da Ana e Valyres, a Espaço Cabaça de Colos que além
de quarto individual com banheiro, também tem um pequeno chalé disponível para
aluguel e espaço para camping. O local não fica perto da praia. É preciso ir de
carro ou encarar meia hora de caminhada. Em compensação fica pertinho das dunas
dos “lençóis”.
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Quarto no interior da casa |
Já a
hospedagem perto da praia, existe o Chalé Velejador de Sonhos, (onde me hospedei em novembro/2018), do Antônio e da Maria. Um chalé com cama de casal, 1 de solteiro, uma cozinha e 2 banheiros. Opção boa para quem não quer perder 1 minuto de praia. deve
também ter outras opções nas hospedagens oferecidas pela comunidade. Para isso,
fica o contato da Helena: 88 8112-1753
Existem outras opções de hospedagens oferecidas pela comunidade. Para isso,
fica o contato da Helena: 88 8112-1753
Passeio:
quem chegar na praia e quiser conhecer os lençóis, vai no Restaurante das
Mulheres e procura por alguém que possa guiar. O passeio pode ser a pé ou de
carroça. Qualquer informação, fica o contato da Graciele, do Restaurante das
Mulheres: 88 9994-8385
Moitas
Como
chegar: vizinho a Caetanos e antes de Icaraí de Amontada.
Passeio
de barco: chegando na vila, perguntar de onde saem os passeios, na barra do
rio. Pagamos R$ 20,00 por pessoa mas esse valor não é fixo. Depende do tamanho do
grupo e da negociação..... 😄😁
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Conversa na cozinha |
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Caramanchão das refeições e do proseado |
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"Jogo Americano" feito pela Ana com as escamas do peixe Camurupim |
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Almoço fresquinho |
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Companhia sempre presente |
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Folga.... |
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Noite do aniversário do Pablo |
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Com o aniversariante |
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Ana providenciando a tapioca pro café |
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E a tapioca |
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Lugar das refeições e conversas |
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Local de camping |
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À caminho da praia |
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Paisagem da janela do chalé |
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Ana tirando a hortelã da horta pra fazer o suco |
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Valyres cortando a cana tirada na hora pra matar meu desejo 😀 |
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Canudos orgânicos pra beber o coco, de mamoeiro e carrapateira |
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Nosso café da manhã |
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E nossa vizinhança |
Moitas
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No caminho pra Praia de Moitas |
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Passando pelo Parque Eólico |
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Peeense na folga!!! hahahah |
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Praia de Moitas |
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Nossa trupe |
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Barra do Rio Aracatiaçu |
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Túnel de mangue |
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Ostras na Ilha das Ostras |
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Banheiro do restaurante da Ilha das Ostras |
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Caminho de volta |
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Banho de rio no caminho |
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Chegando de volta |
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Igreja de Icaraí de Amontada |
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Icaraí de Amontada |
7 comentários:
Que maravilha de passeio! Parabéns pela singeleza da narrativa!
Relato tão minucioso que dá vontade de conhecer. Parabéns!
Tânia
Ainda bem que a natureza e alguns seres vivos, incluindo humanos, continuam a fazer resistência ao concreto e metal.
Bruna
A singeleza deste blog está fantástico! Dá vontade de arrumar a mochila e partir!
Telma
Lia, o post tá perfeito! Senti até o cheiro do peixe e da maresia.
Cláudia
Um espetáculo o blog.
Tudo muito bem escrito, como sempre. Tanto detalhe.
Parece que tava lá. As fotos estão ótimas também. Fiquei realmente muito curioso pra ir pra lá um dia.
Marcelo
Menina teu post ficou um espetáculo. Adorei! Preciso conhecer.
Já escutei mto falar de Amontada pois o marido de uma amiga foi prefeito da cidade há um bom tempo. Agora não sabia dessas belezas naturais do local. Mto massa a gente ter o privilégio de encontrar pessoas como tu que tem o desprendimento, paciência e boa vontade pra nos ofertar tantas dicas show. Obrigada linda. Parabéns pelo belo trabalho.
Marinês
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