terça-feira, 1 de maio de 2018

Rio Branco e um pouquinho da história do Acre (abril 2018)


 
A Gameleira e o Rio Acre à esquerda
Do Estado brasileiro mais a oeste do país poucos sabem, quando muito que era parte da Bolívia. Meu conhecimento não ia muito além disso e qual não foi minha surpresa ao me deparar com um lugar repleto de histórias e lutas. Um pedaço do Brasil, desconhecido e lindo!

“Já que nossa Pátria não nos quer, criamos outra!”
Essa frase foi dita em 1899 por Luiz Galvez, um espanhol idealista que “comprou” a briga pela independência do Acre, a essa altura do campeonato parte da Bolívia, e proclamou a "República Independente do Acre".
Numa terra praticamente inabitada, onde a extração do látex dos seringais era a causa da disputa pela sua posse, Galvez conseguiu implantar diversos melhorias e tentou colocar lei, mas não demorou muito no seu cargo de "Imperador do Acre" (somente 8 meses) sendo destituído, com  a região voltando ao domínio de sua dona de direito, a Bolívia.
Dona no papel porque na verdade aquele pedaço de Floresta Amazônica estava literalmente tomado por brasileiros, mais precisamente nordestinos. E mais precisamente ainda, por cearenses.
Sim, o Acre é um pouquinho (ou um poucão) cearense. Praticamente com todos com os quais falei por lá, ou tinha pais ou avós vindos do Ceará. Migraram fugindo das secas e em busca do "ouro branco", a borracha.
De acordo com a história, o cearense João Gabriel de Carvalho e Melo foi um dos primeiros a abrirem seringais, fixando-se com a família e trabalhadores, isso em 1878. Depois, outro cearense, Neutel Maia, deu origem a atual cidade de Rio Branco, fundando seu seringal  às margens do rio Acre, em 1882.
Foram os seringueiros que finalmente ajudaram o militar gaúcho José Plácido de Castro, em mais uma revolução, a proclamar o "Estado Independente do Acre" e anexá-lo de fato ao Brasil, em 1903.
Com a independência, o Acre primeiro foi Território, passando a Estado somente em 1962.

Bandeira da "República do Acre" (exposta no Palácio Rio Branco), criada por Luiz Galvez. A atual somente inverte as cores verde/amarela

Com tanta história, a capital, Rio Branco, possui diversos museus para contá-las e praticamente foi por museus que andei no dia em que lá estive, visitando-os, passeando pelo centro da cidade e pelo calçadão da Gameleira, local onde nasceu a cidade, com  o seringal de Neutel Maia.
Apesar de alguns dos museus estarem meio abandonados, inclusive alguns fechados, como o Museu da Borracha, visitei os principais:


Palácio Rio Branco – antiga sede do Governo, hoje esse prédio, localizado no centro da cidade, funciona como museu. Conta a história do Acre, das etnias indígenas, dos seringais. Numa época de casas de madeira, foi um dos primeiros prédios de alvenaria (1930).

Palácio Rio Branco

Biblioteca da Floresta – localizada no Parque da Maternidade, é outro espaço que conta a história acreana (ou acriana, segundo a nova reforma ortográfica), a vida nos antigos seringais, dos índios.

Seringueira cearense, como deve ser! 😄😄

Casa dos Povos da Floresta – também localizada no Parque da Maternidade, tem o formato de uma maloca indígena e contém peças indígenas, além de representações de lendas da floresta. Infelizmente, segundo me contaram, perdeu algumas das peças expostas devido a assaltos.

"Mapinguari", o terror das matas, uma das lendas da floresta

Esses três museus oferecem visitas guiadas e são gratuitos. Ótima maneira de se ter uma ideia sobre o Estado.

Saindo dos museus, voltar em direção ao rio e conhecer o  Mercado Velho, que, além de mercado tradicional com venda de ervas, artigos locais  e artesanatos, no entardecer tem barzinhos. 

Mercado Velho

Antes do final do dia, o programa é atravessar uma das três pontes que cruzam o rio Acre, chegando ao pequenino calçadão da Gameleira com suas casinhas coloridas.
Sentar em um dos bancos, ficar olhando as águas do rio passando enquanto o sol se põe, numa calmaria estranha para uma capital.

Gameleira e Rio Acre

Meu dia foi curto mas consegui provar um pouco da culinária local, cheia de tucupi, mandioca, tacacá, açaí,  tapioca, como toda aquela região amazônica.
De novidade, comi uma deliciosa rabada no tucupi com o famoso copo sujo, que é cerveja com gelo, limão e a borda do copo com sal. Comi também kibe de arroz e infelizmente não tive oportunidade de prova a Baixaria (prato com cuscuz de milho, ovo, carne)  embora tenha ido ao Mercado do Bosque com essa intenção.
Ah! Como esquecer dos mingaus? Mingau de tapioca e mingau de banana sempre! Misturados, melhor ainda....

Rabada no Tucupi e copo sujo 😋

Rio Branco é uma cidade pequena, com cerca de 800 mil habitantes. O tempo foi curto mas gostei muito de conhecê-la. Adorei ter aprendido um pouco sobre sua história de lutas e mais ainda de ter conhecido seu povo, hospitaleiro, conversador, prestativo (será sangue cearense? 😊).
O Acre existe e o acreano não existe (no sentido de ser bom demais!!!)!



Dica para quem vai:

Chegando/saindo do aeroporto: os voos de outros estados chegam ao aeroporto de Rio Branco de madrugada e os taxistas cobram R$ 100,00 para o centro. É caro, mas de madrugada é a única alternativa. Uber ainda tem pouco na cidade e mesmo na corrida para o aeroporto (no caso, a volta) eles pedem um complemento ao valor que aparece no aplicativo (no meu caso o aplicativo cobrou R$ 27,00 e o motorista falou que só iria se eu completasse os R$ 50,00).


Fuso horário: 2 horas a menos que Brasília

Hotel (fiquei em dois):
Villa Rio Branco Concept – em frente ao rio, no calçadão da Gameleira, no que eles chamam de 2º. Distrito. Para quem vai turistar à pé como eu fiz, excelente opção, além de ter o rio sempre na paisagem. https://www.hotelvillariobranco.com/
Ibis – Mais próximo ao aeroporto e em frente a um parque. Foi meu 2º hotel porque era mais perto da largada da corrida. Muito bom.

Comidas: não fui a restaurante típico. A rabada no tucupi eu comi no restaurante Ofélia do Shopping Via Verde.
A Baixaria, me indicaram de comer no Mercado do Bosque, no Café da Toinha.

Passeio de balão: isso mesmo! Em Rio Branco existe um passeio de balão para ver a Floresta Amazônica e geoglifos que foram descobertos por lá em 1970. Pra quem se interessar, fica a dica: http://emeamazonia.com.br/

Pra saber um pouco mais da história do Acre, indico a minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes, da Glória Peres, que, eu não sabia, é acreana. No Youtube tem todos os capítulos. Excelente!



Mas fotos:








Tratado de Petrópolis, assinado entre Brasil e Bolívia, anexando definitivamente o Acre ao nosso país







 Das 54 etnias indígenas do Acre, hoje existem 15










Casa dos Povos da Floresta



O boto cor de rosa querendo me encantar


Mais seringa



Com a "poranga" na cabeça pra cortar a seringueira




Réplica da casa dos antigos seringueiros


As "pelas" , bolas de borracha


Mingau de tapioca e mingau de banana



Quibe de arroz



Mercado do Bosque



Rio Acre visto da Gameleira




Casinhas da Gameleira




Gameleiras. Árvores em torno das quais nasceu Rio Branco






Barzinhos do Mercado Velho

Passarela Joaquim Macedo



Passarela Joaquim Macedo
 

Um comentário:

Leila disse...

Muito bom, Lia! aumentou minha vontade de conhecer o Acre.