Do Estado brasileiro mais a
oeste do país poucos sabem, quando muito que era parte da Bolívia. Meu conhecimento
não ia muito além disso e qual não foi minha surpresa ao me deparar com um
lugar repleto de histórias e lutas. Um pedaço do Brasil, desconhecido e lindo!
“Já que nossa Pátria não nos
quer, criamos outra!”
Essa frase foi dita em 1899
por Luiz Galvez, um espanhol idealista que “comprou” a briga pela independência
do Acre, a essa altura do campeonato parte da Bolívia, e proclamou a "República
Independente do Acre".
Numa terra praticamente inabitada, onde a extração do látex dos seringais era a causa da disputa pela sua posse, Galvez conseguiu implantar diversos melhorias e tentou colocar lei, mas não demorou muito no seu cargo de "Imperador do Acre" (somente 8 meses) sendo destituído, com a região voltando ao domínio de sua dona de direito, a Bolívia.
Numa terra praticamente inabitada, onde a extração do látex dos seringais era a causa da disputa pela sua posse, Galvez conseguiu implantar diversos melhorias e tentou colocar lei, mas não demorou muito no seu cargo de "Imperador do Acre" (somente 8 meses) sendo destituído, com a região voltando ao domínio de sua dona de direito, a Bolívia.
Dona no papel porque na
verdade aquele pedaço de Floresta Amazônica estava literalmente tomado por
brasileiros, mais precisamente nordestinos. E mais precisamente ainda, por cearenses.
Sim, o Acre é um pouquinho (ou um poucão) cearense. Praticamente com todos com os quais falei por lá, ou tinha pais ou avós vindos do Ceará. Migraram fugindo das secas e em busca do "ouro branco", a borracha.
Sim, o Acre é um pouquinho (ou um poucão) cearense. Praticamente com todos com os quais falei por lá, ou tinha pais ou avós vindos do Ceará. Migraram fugindo das secas e em busca do "ouro branco", a borracha.
De acordo com a história, o cearense João Gabriel de
Carvalho e Melo foi um dos primeiros a abrirem seringais, fixando-se com
a família e trabalhadores, isso em 1878. Depois, outro cearense, Neutel Maia, deu
origem a atual cidade de Rio Branco, fundando seu seringal às margens do rio Acre, em 1882.
Foram os seringueiros que
finalmente ajudaram o militar gaúcho José Plácido de Castro, em mais uma revolução,
a proclamar o "Estado Independente do Acre" e anexá-lo de fato ao Brasil, em
1903.
Com a independência, o Acre primeiro foi Território, passando a Estado somente em 1962.
Com a independência, o Acre primeiro foi Território, passando a Estado somente em 1962.
Bandeira da "República do Acre" (exposta no Palácio Rio Branco), criada por Luiz Galvez. A atual somente inverte as cores verde/amarela |
Com tanta história, a
capital, Rio Branco, possui diversos museus para contá-las e praticamente foi
por museus que andei no dia em que lá estive, visitando-os, passeando pelo
centro da cidade e pelo calçadão da Gameleira, local onde nasceu a cidade, com o seringal de Neutel Maia.
Apesar de alguns dos museus
estarem meio abandonados, inclusive alguns fechados, como o Museu da Borracha,
visitei os principais:
Palácio Rio Branco – antiga sede
do Governo, hoje esse prédio, localizado no centro da cidade, funciona como
museu. Conta a história do Acre, das etnias indígenas, dos seringais. Numa época de casas de madeira, foi um dos primeiros prédios de alvenaria (1930).
Palácio Rio Branco |
Biblioteca da Floresta –
localizada no Parque da Maternidade, é outro espaço que conta a história
acreana (ou acriana, segundo a nova reforma ortográfica), a vida nos antigos seringais, dos índios.
Seringueira cearense, como deve ser! 😄😄 |
Casa dos Povos da Floresta –
também localizada no Parque da Maternidade, tem o formato de uma maloca
indígena e contém peças indígenas, além de representações de lendas da floresta. Infelizmente,
segundo me contaram, perdeu algumas das peças expostas devido a assaltos.
"Mapinguari", o terror das matas, uma das lendas da floresta |
Esses três museus oferecem
visitas guiadas e são gratuitos. Ótima maneira de se ter uma ideia sobre o
Estado.
Saindo dos museus, voltar em
direção ao rio e conhecer o Mercado
Velho, que, além de mercado tradicional com venda de ervas, artigos locais e artesanatos, no entardecer tem barzinhos.
Mercado Velho |
Antes do final do dia, o programa
é atravessar uma das três pontes que cruzam o rio Acre, chegando ao pequenino
calçadão da Gameleira com suas casinhas coloridas.
Sentar em um dos bancos,
ficar olhando as águas do rio passando enquanto o sol se põe, numa calmaria
estranha para uma capital.
Gameleira e Rio Acre |
Meu dia foi curto mas consegui provar um pouco da culinária local, cheia de tucupi, mandioca, tacacá,
açaí, tapioca, como toda aquela região amazônica.
De novidade, comi uma deliciosa rabada no tucupi com o famoso copo sujo, que é cerveja com gelo, limão e a borda do copo com sal. Comi também kibe de arroz e infelizmente não tive oportunidade de prova a Baixaria (prato com cuscuz de milho, ovo, carne) embora tenha ido ao Mercado do Bosque com essa intenção.
Ah! Como esquecer dos mingaus? Mingau de tapioca e mingau de banana sempre! Misturados, melhor ainda....
De novidade, comi uma deliciosa rabada no tucupi com o famoso copo sujo, que é cerveja com gelo, limão e a borda do copo com sal. Comi também kibe de arroz e infelizmente não tive oportunidade de prova a Baixaria (prato com cuscuz de milho, ovo, carne) embora tenha ido ao Mercado do Bosque com essa intenção.
Ah! Como esquecer dos mingaus? Mingau de tapioca e mingau de banana sempre! Misturados, melhor ainda....
Rabada no Tucupi e copo sujo 😋 |
Rio Branco é uma cidade pequena, com cerca de 800 mil habitantes. O tempo foi curto mas gostei muito de conhecê-la. Adorei ter aprendido um pouco sobre sua história de lutas e mais ainda de ter conhecido seu povo, hospitaleiro, conversador, prestativo (será sangue cearense? 😊).
O Acre existe e o acreano não existe (no sentido de ser bom demais!!!)!
O Acre existe e o acreano não existe (no sentido de ser bom demais!!!)!
Dica para quem vai:
Chegando/saindo do
aeroporto: os voos de outros estados chegam ao aeroporto de Rio Branco de
madrugada e os taxistas cobram R$ 100,00 para o centro. É caro, mas de madrugada
é a única alternativa. Uber ainda tem pouco na cidade e mesmo na corrida para o
aeroporto (no caso, a volta) eles pedem um complemento ao valor que aparece no
aplicativo (no meu caso o aplicativo cobrou R$ 27,00 e o motorista falou que só
iria se eu completasse os R$ 50,00).
Fuso horário: 2 horas a
menos que Brasília
Hotel (fiquei em dois):
Villa Rio Branco Concept –
em frente ao rio, no calçadão da Gameleira, no que eles chamam de 2º. Distrito.
Para quem vai turistar à pé como eu fiz, excelente opção, além de ter o rio sempre na paisagem. https://www.hotelvillariobranco.com/
Ibis – Mais próximo ao aeroporto
e em frente a um parque. Foi meu 2º hotel porque era mais perto da largada da
corrida. Muito bom.
Comidas: não fui a
restaurante típico. A rabada no tucupi eu comi no restaurante Ofélia do Shopping Via
Verde.
A Baixaria, me indicaram de
comer no Mercado do Bosque, no Café da Toinha.
Passeio de balão: isso
mesmo! Em Rio Branco existe um passeio de balão para ver a Floresta Amazônica e
geoglifos que foram descobertos por lá em 1970. Pra quem se interessar, fica a
dica: http://emeamazonia.com.br/
Pra saber um pouco mais da história
do Acre, indico a minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes, da Glória
Peres, que, eu não sabia, é acreana. No Youtube tem todos os capítulos. Excelente!
Veja mais do Acre: 1a Meia Maratona Acre Running - Rio Branco-AC (22/4/2018)
Xapuri e um dia inesquecível da terra de Chico Mendes!
Xapuri e um dia inesquecível da terra de Chico Mendes!
Mas fotos:
Tratado de Petrópolis, assinado entre Brasil e Bolívia, anexando definitivamente o Acre ao nosso país |
Das 54 etnias indígenas do Acre, hoje existem 15 |
Casa dos Povos da Floresta |
O boto cor de rosa querendo me encantar |
Mais seringa |
Com a "poranga" na cabeça pra cortar a seringueira |
Réplica da casa dos antigos seringueiros |
As "pelas" , bolas de borracha |
Mingau de tapioca e mingau de banana |
Quibe de arroz |
Mercado do Bosque |
Rio Acre visto da Gameleira |
Casinhas da Gameleira |
Gameleiras. Árvores em torno das quais nasceu Rio Branco |
Barzinhos do Mercado Velho |
Passarela Joaquim Macedo |
Passarela Joaquim Macedo |
Um comentário:
Muito bom, Lia! aumentou minha vontade de conhecer o Acre.
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