Mesmo
de Quito (a 75km), a visão do Cotopaxi, um cone perfeito com o pico branquinho
de neve, parece meio surreal, pintado à mão.
À
medida que eu me aproximava desse vulcão, o segundo maior ainda ativo do mundo,
a admiração ia crescendo e subir uns poucos metros até um acampamento base, foi
uma das experiências mais incríveis da minha vida.
Embora
nunca tenha passado pela minha cabeça ser alpinista, sempre gostei de ler
histórias de quem desafia seus limites. “No Ar Rarefeito”, livro que conta a
história de uma expedição ao Everest particularmente desastrosa, que tirou a
vida de muitas pessoas, foi um dos raros livros lidos duas vezes por mim. Todo
aquele desafio, esforço sobre humano e determinação dos alpinistas me
encantaram.
Subir
um pouquinho no Cotopaxi me levou de volta àquelas aventuras do livro. Não que
eu tenha chegado pelo menos perto de uma subida ao Everest (nem em neve eu andei!),
mas deu pra sentir 1/10000 do que é encarar uma subida em condições adversas na
altitude, frio e vento.
O
Cotopaxi tem exatos 5.897 metros e, como ainda é ativo, visitá-lo demanda
sorte. Se ele resolver se “enfezar”, o parque é fechado e ninguém pode se
aproximar. Então, é preciso que as condições estejam perfeitas.
Nisso
nós tivemos muita sorte porque o tempo estava lindo! Céu azul que a toda hora
deixou o pico nevado brilhando e em nenhum momento encoberto por nuvens.
Saindo
de Quito, percorremos 75 km até chegar à entrada do Parque Nacional Cotopaxi.
De lá, continuamos de carro por mais uns 25km até atingirmos os 4500m, onde
todos os carros param e seguimos à pé, cada um por si e Deus por todos (apesar
do guia sempre perto, o que é obrigatório).
Começando a subir |
O
refúgio fica a 4864m. O desnível é de 300 metros mas de caminhada são 800
metros bastante íngremes, com um vento tão forte que muitas vezes eu precisei
sentar para que ele não me derrubasse. O frio foi amenizado pelo bom tempo e
pelo esforço físico que, naquela altitude, me fazia parar a cada 10 metros, com
o coração em tempo de sair pela boca. Eu olhava pro refúgio, achava que dali a
pouco chegaria nele, mas o coração não deixava e me fazia parar a cada instante
para respirar e acalmá-lo.
Parando pra descansar |
Algumas
pessoas desistiram no caminho. Outras passaram mal com a altitude. Felizmente,
há mais de 7 dias viajando acima de 2500 m, eu não senti nada além do cansaço
normal.
Chegar
no refúgio, depois de 1 hora, foi uma sensação inesquecível. Naquele momento me
senti no topo do próprio Everest!
A alegria da conquista |
Acima
do refúgio, o caminho para o pico só é aberto a quem deseja atingi-lo, à noite,
para evitar possíveis avalanches que o aquecimento do sol pode causar, bem como
para evitar o calor, que torna o processo mais cansativo.
Pra
mim, ir até ali já foi um feito incrível que valeu cada segundo, apesar da
dificuldade.
No
refúgio, um pouco de descanso, beber água, chá, chocolate ou comer algo,
carimbar o passaporte e voltar, dessa vez tendo mais cuidado ainda com o vento,
o que não evitou que eu caísse algumas vezes......
Interior do refúgio |
Do
Cotopaxi, seguimos para Latacunga, uma cidadezinha pequena e calma que, no
domingo, estava tão calma que parecia deserta. Como sempre, caminhar por esses
locais me encanta e caminhando chegamos a um parque com uma lagoa no meio onde
as famílias passeavam, brincavam com as crianças, comiam, andavam nos
barquinho. Uma tranquilidade tão grande, que invejei....
Vídeo da pracinha em Latacunga: https://www.youtube.com/watch?v=myurWpinNGE
Latacunga
foi colocada no roteiro somente para dormida, pois dali fomos de ônibus na
manhã seguinte bem cedo para nossa próxima aventura: a Lagoa Quilotoa.
Na
verdade, a lagoa também é um vulcão. Ou melhor, a lagoa formou-se na cratera do
vulcão. Esse, extinto.
Chegamos
ao pequeno povoado ainda cedo pela manhã. Vento congelante, o que nos fez parar
em uma local para tomar café e, principalmente, procurar abrigo e esperar que o
vento diminuísse.
Dali
partimos em busca da trilha pra lagoa. Existem outras trilhas, como uma mais
longa ao redor da cratera. Optamos pela mais curta, de 1,7km e, com certeza
mais bonita, que nos leva até a base da cratera, na lagoa.
Logo
ao chegar no mirante, a beleza do lugar é de emudecer. Sem exageros! É lindo
demais!!!!!
Fomos
devagar, pois é meio escorregadio por conta da areia e algumas pedrinhas.
Enquanto descíamos, outros turistas subiam, a maioria em cavalos. Os mais
dispostos, à pé.
Todo
o percurso é belíssimo e para-se a toda hora para apreciar a paisagem e tirar
fotos.
Na
base existe uma pequena cabana que vende água, refrigerante e biscoitos além de
alugar kaiaques. A água, como não poderia deixar de ser, é gelada. Mesmo assim
havia uns loucos tomando banho....
Na
hora de subir, como a maioria, optamos pelos cavalos, aliás, éguas. A subida
merece! É muito puxada e a altitude de 3500m só dificulta.
Vídeo do passeio ao Quilotoa:
Na
volta, perdemos o ônibus e como não quisemos esperar pelo próximo, aceitamos o
oferecimento de ir até a cidade mais próxima num “pau de arara” (U$ 2 por
pessoa). Chegando na cidade, “aceitamos” novamente o oferecimento de um “taxi”
(+ U$ 2 por pessoa), uma caminhonete de cabine dupla. Achando que iríamos
sozinhos com o motorista, fomos nos apertando no banco à medida que entravam
mais pessoas, todos indígenas e falando quíchua, dentre eles uma bebezinha
presa às costas da mãe, uma “cholita” toda caracterizada.
Eu precisava registrar.... |
Depois
de 45 minutos apertados, ouvindo música em quíchua, finalmente chegamos em uma rotatória
no meio da estrada onde o motorista da caminhote nos apontou o ônibus que
estava naquele momento saindo para Quito e lá fomos nós!
Nada
como essas surpresas em viagens, o que tornou tudo ainda mais inesquecível.
Cotopaxi
e Lagoa Quilotoa são passeios obrigatórios para quem aprecia uma boa aventura e
a beleza da natureza. Amei!
Quito, uma pérola na metade do mundo
Guayaquil, a maior cidade do Equador
Salinas Run 21k (02/07/2017)
Cuenca é muito mais que o Chapéu Panamá
Dicas
para quem vai:
Roupas: no Cotopaxi faz frio. Leve gorro, luvas e
casaco corta vento, se possível. Leve óculos para proteger os olhos da areia
levada pelo vento. Botas são bem vindas, principalmente em Quilotoa onde o piso
é escorregadio. Foi um sofrimento ter ido de tênis!
Adaptação : Se você vai passar uns dias em Quito ou Cuenca, deixe para ir ao Cotopaxi e Quilotoa por último. Alguns dias de altitude, já deixam o corpo adaptado e isso ajuda bastante.
Adaptação : Se você vai passar uns dias em Quito ou Cuenca, deixe para ir ao Cotopaxi e Quilotoa por último. Alguns dias de altitude, já deixam o corpo adaptado e isso ajuda bastante.
De Quito para o Cotopaxi: você pode ir de
ônibus normal de linha, mas optamos por fazer o passeio através de agência. Se
for de ônibus por conta própria, na entrada do parque é preciso contratar um
carro 4X4 e um guia (o 4X4 é imprescindível, pois o caminho até o
estacionamento final é escorregadio e bastante íngreme).
A
agência faz os dois tour no mesmo dia, num bate/volta para Quito. A não ser que
seu tempo seja curto, eu não recomendo. A caminhada no Cotopaxi é pesada, assim
como a de Quilotoa. Creio que o segundo passeio não seria tão apreciado devido
ao cansaço e pouco tempo.
A
opção de dormir em Latacunga na minha opinião é perfeita.
A
agência Expediciones Centro del Mundo nos pegou no hotel e providenciou
que o guia do Cotopaxi nos deixasse em Latacunga (enquanto os outros turistas
do tour seguiam para Quilotoa).
Preço para Cotopaxi – U$ 45 com café da manhã, almoço e
guia (se fossem os dois passeios juntos, seria U$ 75).
Hotel em Latacunga :Hotel
Endamo Hotel simples mas que atende à necessidade de uma noite,
especialmente pelo proprietário, extremamente gentil e que nos deu todas as
dicas de que precisávamos.
De Latacunga para Quilotoa: ônibus de linha na
rodoviária local. Empresa Vivero faz o percurso direto em 2 horas, por
U$ 2,50. Saímos no ônibus de 7:55 horas.
Existem
também excursões que saem e voltam para Latacunga, pelo preço de U$ 40 por
pessoa.
Cavalos para subir: U$ 10 por pessoa . Sobe-se em 40
minutos e vale muito à pena!
Ainda
na Lagoa, paramos para almoçar no Hostal Chukirama. Foram U$ 4 por
pessoa pelo almoço que incluía sopa, prato principal e suco. Achei o local
bacana para quem se interessar em dormir e fazer as trilhas sem pressa.
De Quilotoa para Latacunga: o mesmo ônibus da
ida. O último sai da lagoa às 17 horas.
De Latacunga para Quito: 1h30h de viagem de
ônibus por U$ 2 por pessoa. Parada final no Terminal de Quitombe, em Quito, de
onde pegamos um taxi por U$ 10 (tarifa combinada, sem taxímetro) para o centro
de Quito.
Mais fotos:
Ó ele lá longe! |
Parada na estrada para apreciar o Cotopaxi ao longe |
Já dentro do Parque, o nosso grupo |
Chá de coca antes de iniciar a subida para diminuir os efeitos da altitude |
Começando a subida |
Lááááá na frente, o teto do refúgio |
Só um restinho de neve nesse pedaço da trilha |
Cheguei!!!! |
Acima, neve e o cume |
No refúgio |
Foto do recorde da subida |
Lanchonete do refúgio |
As pessoas que ainda estavam subindo |
Mais fotos antes de descer |
Descendo.... |
Passaporte carimbado |
Praça central de Latacunga |
Parque de Latacunga |
Em Latacunga, a visão de mais um vulcão |
Chegada à localidade da Lagoa de Quilotoa |
Começo da descida |
😱😱😱 |
Vegetação no caminho |
Poeira na passagem das éguas |
Pequeno vendedor de tangerinas no caminho |
Apreciando |
Chegando à base |
Lindo demais! |
Hora de voltar |
Fomos láááááá embaixo |
Almoço no hostal |
Hostal Chukirawa |
Dentro do pau de arara |
E na caminhonete |
2 comentários:
Adorei o relato!! Lindas fotos!! Parabéns!!
Inesquecível Cotopaxi! Onde meu coração saiu pela boca...
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