Mas afinal de
contas, por que eu estou aqui correndo isso tudo?
Pra provar alguma
coisa pra alguém? Pra mim mesma? Vale a pena?
Essas foram as
perguntas que me acompanharam durante praticamente todos os 42.195m da maratona
de Cordoba.
Progredir nas
distâncias é algo quase intrínseco ao corredor.
Começamos com um
trotezinho básico, enchemo-nos de felicidade com os primeiros 5km e a alegria da primeira prova de 10km é
dificilmente esquecida.
Depois disso,
invariavelmente, começamos a paquerar com a meia maratona.
De 10 pra 21 é
muita coisa, sendo por isso mesmo um
processo um pouco mais demorado e ficamos meio que sonhando com o dia em que
atingiremos essa marca, que, sendo batida, nos faz pensar que somos seres
“especiais”, diferentes dos demais “mortais”, afinal, somos MEIO MARATONISTAS.
Aí, como corredor
é meio louco (e muito ambicioso) começamos a olhar e sonhar de longe com ela, a
prova das provas, a rainha maior, o sonho de consumo: A MARATONA.
Admiramos os
maratonistas e olhamos para eles com
respeito, afinal, são seres "poderosos", determinados, que conhecem as
dores e delícias de correr 42km e, secretamente, começamos a pensar em nos
tornar um deles.
Mas, se dos 10
pros 21 já é um longo caminho, dos 21 pros 42 então......
Não tem problema.
A gente vai lá. Treina, treina, treina e chega o dia da coroação máxima de
tornarmo-nos maratonistas, igual a Filípedes (que na verdade correu foi
233km...). Glória total.
E aí passamos a
acreditar que podemos tudo!
E comigo não foi
diferente.
Passei por todos
esses passos e sonhos para depois de 5 anos de corrida fazer minha primeira
maratona.
Primeiros 42km
feitos, achei que podia tudo. E emendei logo mais 2 provas de 42 no curto espaço de
11 meses. Resultado? Lesão.
Se existe uma
coisa que tenho pavor é lesão! Não pela dor ou demora de tratamento, mas pelo
fato de ter que parar de correr.
Então, coloquei
na minha cabeça que não iria mais correr maratonas, pois não queria me lesionar
e, consequentemente, parar de correr.
Mas.....
No fundo eu sabia
que “O” dia iria chegar.
E chegou,
conforme já contei no post ( http://liaccampos.blogspot.com.br/2015/03/rendi-me-que-venham-esses-42km-cordoba.html ).
Decidida a fazer
mais uma maratona e provar pra mim mesma que ainda sou capaz (apesar dos anos que estão passando...), me cerquei de
cuidados, sendo o principal, contratar um treinador, afinal, treino pra 21km eu
sabia fazer, mas pra 42, sabia não...
O Duda montou
três meses de planilha pra mim, que eu segui à risca.
Treino pra
maratona é pesado. Longões longos.....
Como sempre, fiz
todos os meus treinos sozinha.
Aos sábados, dia
mundial do longão, estacionava o carro no Iguatemi, enchia de garrafas de água
congelada e saía pra correr. Os últimos kms (uns 10 ou mais), eu já percorria
rodando o estacionamento do shopping, feito peru, mas assim podia pegar minha
água e também evitava um pouco mais o sol.
Ah, o sol!
Esse é um
capítulo à parte.....
Correr 30, 32km
no sol de Fortaleza, com certeza nos faz capazes de correr ultra maratonas em
qualquer lugar do mundo menos quente!
E, nesses treinos
muito longos, o sentimento que mais me marcou foi o da "falta de saco".
Sim. Lembro de
uma vez que queria fechar os 35, mas quando cheguei nos 32, apesar de ainda me
sentir com fôlego, bateu uma falta total de saco e de paciência. E parei.
Chega. Tá bom. Que venham logo esses 42!
E eles vieram.
Não sem antes
(menos de 1 semana), uma gripe literalmente me derrubar e me tirar dos treinos
por uns 4 dias.
Pronto! Já
insegura e sem treino na última semana, comecei a achar que não estava
preparada.
Viajei. Na 5a.
feira, sentindo-me melhor, fiz um
treino de 6km (!) em Córdoba.
Ah meu Deus!
Corri no máximo 32km já faz DUAS semanas, pego uma gripe de moer, fico “um
bocado” de dias sem treinar, faço só um treinozinho de 6km na 5a. feira.....
Será que eu vou conseguir?
Será que eu vou conseguir?
Quer mais? Quer
mesmo?
Pois lá vai: na
sexta-feira, DOIS dias antes da prova, acho que de ansiedade, chegou uma baita
diarreia. Isso mesmo. Agora lascou! 😀
Sozinha, com
passeio agendado em agência de turismo, decidi mesmo ficar no hotel quietinha,
com 5 litros de água que comprei, bananas e maçãs. Daqui não saio.
Mas a noite
chegou e a rua em que eu estava hospedada era cheia de bares.....
Quer saber? Eu tô
na AR GEN TI NA! Vou ficar aqui presa numa noite de sexta-feira não!
Desci pro bar
embaixo do hotel, fiquei observando o movimento da rua e pedi uma QUILMES ao
garçon, com queijo de tira gosto e o danado me trouxe ainda uma
porção de amendoim de cortesia! Pronto! Agora acabou tudo de vez! Agora Inês morreu e minha
maratona foi pro brejo! Que seja!
No sábado ainda
não estava 100% do intestino, mas me enchi de água e banana novamente, fiquei
em repouso absoluto (só no “zap zap” com amigos e treinador, tentando me
acalmar) e deu certo, meu intestino me deu paz!
No domingo, não
tinha como fugir e fui encarar o que estava me apavorando.
Estava mesmo
muito insegura com todos esses acontecimentos.
Uma cearense inquieta e apavorada esperando a largada |
Comecei a correr
sempre policiando meu ritmo, sem pressa, pois não queria correr o risco de
“quebrar”.
Os kms foram
passando e chegaram os 21. Aí eu pensei: se fossem minhas meias maratonas de
sempre, essa hora eu já finalizava e ia curtir a cidade... Mas vamos continuar.
E aí comecei a
pensar exatamente isso: pra que correr tanto??? Pra que tudo isso???? O que
você quer provar, Lia??? Vale a pena?
Eu tinha que
continuar e descobrir isso só no final.
Eu me sentia
sempre bem, mas veio um tédio!...
Affff.... É muito
chão!!!!
Juro, eu juro,
que por umas três vezes eu tive sono! Sério mesmo!
Depois do km 32, começou uma
zona desconhecida pra mim (5 anos apagaram minha memória) e fiquei esperando o
temído "muro".
Esse eu me
lembrava muito bem da minha primeira maratona, em Curitiba, quando eu
simplesmente travei. Faltaram-me pernas, forças, coração, fôlego, tudo. Só continuei a
correr porque enfim eu não tinha outra alternativa.
Mas o km 32
passou, passou o 33 e eu pensei: no 34 ele (o muro) chega!
Mas nada...
No 38 eu senti
uma leve pontada no peito.
Ai meu Deus! E se
for coração? Eu sozinha aqui, tão longe de casa! Quem vai me acudir? Bem que
minha mãe disse que isso era exagero!
Com tanta notícia
de corredores ultimamente que tiveram problemas cardíacos durante prova, tendo
eu inclusive assistido a uma morte no Mato Grosso do Sul, fiquei mesmo receosa.
Calma Lia.
Respira fundo. Respira fundo. Diminue o ritmo. Respira, respira.
Passou.... E eu
alcancei o km 39, o 40 e nada do muro. No km 41 desisti de esperar por ele e,
já que a pontada no coração tinha passado e só faltavam 1000 metros, pernas pra
que te quero! Vai que é tuuuua, Lia!!!!!!!
E foi assim que,
na minha 4a. maratona, pela primeira vez eu terminei esses temidos 42km com um
sprint, sem ter visto porcaria de muro nenhum e com meu melhor tempo (mesmo
estando 5 anos mais "madura"! Até agora não sei se a "culpa" foi da diarreia, dos amendoins ou das Quilmes... rsrs)
A felicidade foi
geral. E o melhor: sem lesão!
Apesar da minha chegada solitária, a felicidade foi enorme! |
Valeu a pena?
Valeu, claro.
Vamos pra
próxima?
Espera aí. Vamos
com calma.
Por um bom tempo
acho que continuarei com os meus 21km mesmo. Menos tediosos, mais rápidos...
Mas é claro que,
como boa corredora, um dia voltarei a sonhar com a maratona.
Quem sabe com uma
ultra? heheeh
E assim é como geralmente terminam as maratonas. Muita emoção nesse flagrante feito pela "equipe solo" Correndo o Mundo, já devidamente medalhada e mais uma vez maratonista |
21 comentários:
Show garota Lia!
Ronaldinho
Muito orgulho dois dois!
Marina
Lia, Excelente relato!!! poxa que bacana ler tudo isso de uma pessoa tão especial como você.
vc treinou corretamente, vc tinha que atingir esse resultado mesmo!!! so não contavamos com a gripe na véspera.... hahahahah
mas o que mais me impressiona é saber que por mais experiente que somos, sempre, sempre dará uma grande ansiedade, seja em fazer a prova ou em treinar alguém!
muito orgulho de você amiga! e a ultra já está marcada, desafio 50k lá no Crato em fevereiro ou março de 2016. ;)
Você que me levou para minha primeira maratona, isso jamais vou esquecer!!!
grande abraço do treinador e fã Duda.
é isso aí Lia Campos!!! Meus parabéns, estou orgulhosa de vc...
Eunice
Haja esforço e determinação. Fiz uma e nem sei quando pretendo fazer outra, mas vou...Parabéns
Luiz
Valeu Lia. Excelente texto e parabéns pela prova
Enrico
Muito sofrimento afff rsrs tenho coragem não, mas admiro muito quem faz e a vitória deve ser absurdamente saborosa !!!! Parabéns !
Márcia
Belo texto, lia! Principalmente pela parte da Quilmes! Kkkkk!
Vinícius
Valeu lia . é sofrido mas . depois da uma sensação de vitoria de superação indescritivel . parabéns .por mais esta .
Romão
Uauuu!
Parabéns!
Não corro nem 1k!
Iluska
Parabéns, Lia. Maratona é dureza do começo ao fim. Da decisão por encarar os 42k, dos longos e desgastantes treinos até atravessar a linha de chegada onde existe uma mistura de êxtase pela vitória com dor e cansaço. Vc é uma guerreira. Ainda encarar tudo isso sozinha. Parabéns.
Reginaldo
Show! Seu depoimento me deu vontade embora me falte coragem!
Lucilene
Que depoimento lindo e emocionante Lia. Vejo os amigos almejarem os 42 mas estou feliz com meus 21 quem sabe mude daqui há uns anos. Meus parabéns
Alisson
Parabéns Lia por mais uma conquista pessoal. e vamos q vamos...
Ivan
Lia Lia Campos , derrame volumoso no joelho, cisto de Baker e gripe estão no currículo, faltando duas semanas ...
Então, sua história é um grande incentivo...
Existe luz ao final do Tunel!
Opa...
Na Linha de Chegada!!!
Valeu!!!
Pedro Henriques
Pocha, QUE HISTÓRIA maiúscula e vitoriosa !! parabéns, estou planejando a minha 1ª Maratona, com calma e prudencia e organizando os treinos para tal desafio que virá em breve... que legal, historias assim... motiva muito ! Sensacional ! mais uma vez parabéns
Márcio
Valeu..parabens pela jornada..belo exemplo...sou meia maratonista rsrs quem sabe um dia ainda faço uma...tudo é possível pq queremos sempre mais..um abraço
Joana
São comentários como esse que me faz pensar em uma outra MA RA TO NA. Obrigado pelo texto, renasce um novo sonho. Quem sabe logo em 2.016.
Excelente depoimento Lia! VC não imagina o quanto pode ajudar a muitos corredores. Parabéns pela corrida e pelo relato. N
Que legal lia... Parabéns... Um dia também pretendo correr uma maratona.... E vai ser assim tb. Menos com a diarréia, espero.. Rsrdrd
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