Quem
segue esse blog deve estar achando o título bem inusitado, afinal, a “dona” do
blog já escreve com tanta propriedade sobre inúmeras corridas pelo mundo afora que
essa corrida do jornal O Povo jamais poderia ser sua primeira.
Mas foi a 1a do seu
irmão caçula que tem a honra de escrever no "Correndo o Mundo".
Vou
ser sincero logo de início. Nunca fui muito fã de atividades esportivas. O único
esporte que gostei foi voleibol, mas minha carreira foi destruída por um
acidente leve no meu punho. Desde então tive medo de voltar a pegar na bola.
Na nossa
família a Lia sempre foi a mais atleta. Desde pequena com a natação, seguindo
para as corridas, ela continuou sendo uma fonte de inspiração para o resto de
nós.
Para mim, o esporte só voltou a acontecer de novo com a malhação de
academia que continuo fazendo nos últimos 10 anos. Tentei por várias vezes
entrar de vez num esporte aeróbico, mas sempre deixei de lado.
Tanto a natação,
como a bicicleta e a corrida me passavam uma imagem muito solitária, triste e
tediosa. Na academia, pelo menos existe um ambiente de socialização que não
parecia ocorrer nas práticas de corrida, por exemplo.
Recentemente li sobre um
estudo da Dinamarca que acompanhou 20.000 pessoas por 26 anos, homens e
mulheres de várias idades, e notou que as pessoas que correm de 1 a 2,5 horas/semana
vivem em média cerca de 6 anos a mais do que as sedentárias. Esse foi o estopim
para eu começar a correr!
Há
11 anos moro fora e tenho visto o crescimento viral das corridas no Brasil. Mesmo numa cidade como Fortaleza, que tem um clima difícil para
esse esporte, é interessante notar como amigos que nunca tiveram muita afeição
pela atividade física estão totalmente envolvidos com o ato de correr.
Disse
à Lia que estava correndo 3 vezes por semana nos últimos 2 meses e claro que
minha irmã ficou toda empolgada. Decidi fazer uma visita rápida em Fortaleza, e ao chegar, ela me informou que teria a corrida do jornal O Povo no sábado à
noite. Fiquei meio ressabiado, pois estava de férias e uma corrida num sábado à
noite é pura covardia.
Minha
outra irmã também disse que iria. Acabei me animando e confirmei a participação
na primeira corrida da minha vida aos 37 anos de idade.
Ao
chegar de moto, minha primeira impressão foi das melhores. Inúmeros carros
estacionados no acostamento da avenida que leva ao aeroporto de Fortaleza,
várias tendas e muita música pra animar os participantes. A Lia me ensinou como
colocar o chip no tênis e nos preparamos para o começo.
Todo empolgado... |
Antes do início da
prova nos posicionamos ao lado esquerdo da pista. Muita gente espremida numa só
faixa de trânsito e começamos a conversar sobre os benefícios do aquecimento
antes de uma atividade física e da ausência de benefícios do alongamento, algo que é meio
tabu nos meios esportivos.
Uma
reclamação comum dos participantes foi a camisa da corrida que poderia ter mais
ventilação para ajudar no calor de Fortaleza.
O
começo da prova foi bem complicado. Uma só faixa para mais de mil pessoas foi
um desafio tremendo. Não conseguia correr no meu passo e tinha gente andando já
nos primeiros 300 metros, o que dificultava muito o fluxo das pessoas. Devido
ao estreito percurso, no início muitos corriam pela calçada ou até além dos
cones na faixa à direita, onde carros transitavam, tornado o evento bastante
perigoso.
Depois
dos 2 Km tudo ficou mais tranquilo, com copinhos de água para hidratação,
razoável policiamento, uma medalha bonitinha e um kit pós-prova com uma boa
quantidade de frutas.
Mas
o que mais me chamou a atenção da corrida foi o aspecto coletivo em todo o
processo. Desde a concentração, com os amigos se encontrando, trocando
figurinhas sobre a sua vida, sobre as últimas corridas e sobre os seus últimos
treinos, foi interessante perceber o aspecto social que envolve esse grupo de
pessoas. No decorrer do percurso vi diversas pessoas correndo em grupo, dando
força uns aos outros, isso para não falar dos torcedores que apesar de poucos,
dão também uma forcinha para que sigamos em frente.
Ao final, toda a ideia de um esporte solitário
e triste estava desmantelada na minha cabeça. Se o treino pode ser um pouco
solitário, o clímax seria uma prova onde é possível encontrar amigos e
incentivar um ao outro no decorrer da corrida.
O trio com suas medalhas |
O
homem é primariamente um ser social. Fazemos parte de um complexo grupo de
indivíduos nesse planeta. Pouca gente pensa nisso, mas além da telona e da boa
aparelhagem de som do cinema é também
divertido tomar susto, rir e chorar com outras dezenas de pessoas numa sala; é melhor assistir um jogo da seleção “arrodeado”
de amigos e é por isso que acho que além da idéia de superação e do bem-estar
físico do indivíduo, a corrida traz embutida uma idéia de grupo, de turma, de
conjunto que nos define como seres humanos.
Espero, ao voltar para casa,
encontrar também esse estímulo social, virar viciado em corridas e correr o
mundo assim como a minha irmã.
Marcelo
Campos
Um novo Usain Bolt??? |
4 comentários:
que texto legal Lia!!! parabéns ao Marcelo, Marcia e à vc em especial por contaminarmos com tanta competência...
Lia e Marcelo,
Que alegria ler este relato. Como é legal correr em família e poder comprovar a animação do Marcelo em sua primeira prova.
Sempre digo que todo mundo deveria pelo menos uma vez ir até um evento de corrida para sentir a emoção e o clima contagiante dos corredores. Espero que o Marcelo tenha sido contagiado e vocês correr mais provas juntos.
Muito bacana!!
Abraços e bons km's!!
Helena
http://correndodebemcomavida.blogspot.com.br/
Helena, sempre bom receber sua visita no blog.
Também estou torcendo muito para que meu irmão se contagie por esse vírus comum à nós.
Bj
Lia
Marcelo,
essa nossa corrida juntos já estava agendada desde 2006, quando fui lhe visitar e nos inscrevemos juntos pra uma prova em NY, mas na hora "H" vc não pode ir, acho que por estar adoentado, lembra? Acabei correndo sozinha...
Desde então tenho tentado que dê certo uma prova juntos e dessa vez deu tudo certo.
Foi muito show correr com vc e Márcia!
Mas olha, a "solidão" em treinos de corrida é mt relativa.Creio que pelo menos no nosso país, correr é uma atividade extremamente socializante até nos treinos.Basta ver a quantidade de assessorias esportivas! As pessoas saem de casa para treinar, mas ao mesmo tempo para encontrar com a turma de corrida, correm conversando e, após o treino o papo ainda continua. Sei que em alguns países existem Clubes de Corridas, mas assessorias como as nossas, ainda não vi.
No Brasil a corrida é algo tão voltado para o social que as provas de revezamento estão sempre batendo recorde de inscritos. Em Fortaleza, não tem corrida que junte mais gente do que o revezamento do Pão de Açúcar. E essas corridas de revezamento também são bem próprias do nosso povo.
Apesar disso, tem quem goste de correr só, como eu. Deixo o “social” para as provas e o treino é um momento comigo mesma, de interiorização, colocar as ideias em dia (mesmo usando o mp3) e isso tb é muito bom. Pelo menos eu adoro,
Portanto, meu irmão, sozinho ou em grupo, espero mesmo que o vírus da corrida possa lhe contaminar de vez e a gente possa vir a fazer muitas provas juntos (porque correr o mundo vc já corre...)
Beijao
Lia
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