“Após
meus irmãos e pais terem decidido que iríamos comemorar os 70 anos de minha mãe
em uma viagem por Portugal, foi minha vez de correr para a internet e procurar
uma corrida de rua pela Europa na mesma época. Logo após a data do aniversário
encontrei a 20ª. MEDIO MARATON DE VALENCIA, na Espanha, no dia 21.11.2010
(www.mediomaratonvalencia.com).
A
prova deste ano bateu recorde de inscritos, com 8.000 corredores. Fiz
minha inscrição (16 euros) e estava tudo certo. Após uma maratona de 8
dias de muito bacalhau, vinho, doces portugueses e fados, muitos fados, por
Lisboa, Sintra, Cascais, Porto e Coimbra (que maravilha, que é Portugal!),
cheguei viva em Valência. Durante esses dias vi poucos corredores pelas ruas de
Portugal e bem que pensei em treinar, mas, devido ao frio, minha intenção
não passou de pensamento…
Chegando
em Valência, fui direto pegar meu kit na “Feria Del Corredor”, na Marina Real
Juan Carlos, mesmo local onde em 27 de junho ficaram as escuderias do
Grande Prêmio de F1, na zona marítima de Valencia. A feira tinha poucos
quiosques de material esportivo, sendo o maior o da Adidas, patrocinadora da
prova.
Com
meu “dorsal” na mão e o chip (pelo qual tive que fazer um depósito de 5 euros –
reembolsável após a prova), fui pegar a sacola do corredor, com a camisa da
prova e alguns brindes (bolsa, desodorante da Adidas e amostras de perfumes e
batom da Dior. Que chique!).
A
feira estava pouco movimentada e o que me chamou atencão foi a grande quantidade de corredores
do sexo masculino, o que foi confirmado durante a prova. Pouquíssimas mulheres
em comparação aos homens.
No
domingo, acordei cedo. Já sabia direitinho qual metrô pegar, então, tentando
evitar ao máximo o frio durante o tempo de espera pela minha largada, ainda
fiquei no meu quarto, me aquecendo, por quase 1 hora.
Saí
sozinha do hotel antes das 8 horas (a largada seria às 9:30). A rua, que na
noite anterior estava lotada e barulhenta, a essa hora, com o nascer do sol e
11oC, estava completamente deserta.
Na
estação do metrô, apenas 3 pessoas com seus garmins e chips nos tênis. Pronto.
Estou na minha praia. O trem chegou lotado de corredores, todos muito
silenciosos e quietos.
Incentivo |
Na
largada, ainda passei mais de 1 hora aguardando e observando o movimento dos
corredores friorentos, se aquecendo e conversando e resisti o quanto pude para
tirar minha vestimenta de cearense (casacão, gorro, cachecol, jeans), entregar
na “guarda ropía” e ir para a “saída” com todos.
Largamos.
13oC durante todo o percurso, mas com certeza a sensação térmica era de menos,
pois ventava muito. Vento gelado!
O
percurso passou por bairros residenciais de Valência, pelo centro histórico e
pelo magnífico complexo da “Cidade das Artes e da Ciência”.
Pelo centro da cidade |
No
km 7 retornamos ao mesmo local da largada. Vontade grande de pegar minhas
roupas, me aquecer e ir passear pela cidade. “Ânimo”, Lia!
No
km 10, “do nada” surgiu uma dor no meu joelho (na realidade acho que foi a
falta de costume do “bichim” com o frio). E agora? Não vim até aqui pra parar
no meio do caminho! Até então eu estava num ritmo muito bom e com certeza
iria bater meu recorde pessoal nos 21km, mas a partir dali tive que continuar
intercalando trote e caminhada.
Sempre
que caminhava, SEMPRE, passava algum corredor por mim e dizia “ânimo”, “vamos”
e eu recomeçava a correr.
Na
corrida, vi 2 grupos que me chamaram atenção. Em um deles, todos estavam com a foto
de um rapaz impressa na camisa, dizendo “Davi, corremos por ti”. Depois soube
que Davi era um rapaz que morreu em um acidente recentemente. O outro grupo era
de pessoas que se revezavam empurrando um carrinho com uma criança dentro. Na
camisa: “Eu também empurro o carro”. O grupo arrecada fundos para uma doença
degenerativa.
Bem,
e eu continuei correndo e meu joelho continuou doendo muito. No km 20, ele
simplesmente “travou”. Eu não conseguia mais correr. Mas então, ao meu lado
apareceram 2 homens, sem roupas de corredor, sem nº. de peito, acompanhando e
estimulando uma corredora e um deles cismou em não me deixar caminhar. Ainda
tentei explicar, no meu pobre portunhol, que eu não podia correr por causa do
meu joelho, mas não teve jeito, ele fez de conta que não entendeu (ou não
entendeu mesmo), não me deixou mais andar e me arrastou até o final. Foi assim
que consegui.
E lá venho eu... |
Pausa na dor e alegria ao ver meus pais |
Depois
de todo aquele sofrimento, que maravilha foi ver meus pais me esperando na
chegada!
Cheguei |
O
kit alimentação ao final foi um saco com tangerinas, típicas da região, uma
caixinha com melão cortado, água e isotônico.
Os campeões, pra variar,
foram quenianos e etíopes, tanto no masculino como no feminino. Ah, e não teve
medalha, mas um certificado de finisher
que depois baixaríamos pela internet.
Já com a "vestimenta de cearense", pronta pra passear por Valencia |
Pelo
percurso, pelo frio, pela superação da dor, prova inesquecível.
Quase não cheguei "en hora buena", que era 2:30 (tempo de corte) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário